Além de reeleger o presidente no primeiro turno, movimento patriótico fez a ampla maioria dos governos estaduais e municipais, e elegeu as maiores bancadas do Congresso Nacional, das Assembléias e Câmaras Legislativas.
Por Leonardo Wexell Severo, enviado do Hora do Povo a Quito
O povo equatoriano ratificou domingo (26) seu crescente apoio ao processo de transformações encabeçado pelo presidente Rafael Correa e seu Movimento Aliança País. Além de reeleger Correa no primeiro turno – fato que ocorre pela primeira vez em duas décadas -, com cerca de 52% dos votos, contra 28% do segundo colocado, os eleitores deram ao movimento patriótico a ampla maioria dos governos estaduais e municipais, e garantiram as maiores bancadas parlamentares no Congresso Nacional (unicameral), nas Assembléias e Câmaras Legislativas.
Entre as principais conquistas da “Revolução Cidadã” destacam-se a aprovação da Nova Constituição, em 28 de setembro do ano passado - com o fortalecimento do papel do Estado, da soberania nacional e do controle social sobre os setores estratégicos da economia -; a ampliação dos investimentos públicos na saúde, educação, moradia e obras de infraestrutura; a eliminação da terceirização e da intermediação de mão-de-obra e a reorientação da política externa, com a promoção da integração regional - através de organismos como a Unasul -, a suspensão do pagamento dos juros da dívida “ilegal e ilegítima” e a retomada, ainda neste ano, da base naval de Manta, hoje ocupada por tropas estadunidenses. Além disso, o governo decidiu realizar duas auditorias fundamentais para o pleno desenvolvimento da economia e da democracia, passando a limpo a partir de uma análise criteriosa a dívida externa - multiplicada pelos governos anteriores - e as concessões públicas de rádio e televisão, ambas comprovadamente contaminadas pela corrupção.
“Esta revolução está em marcha e nada nem ninguém a detém. Hoje renovamos o nosso compromisso com os mais pobres. Não somos excludentes, mas nosso governo tem uma opção preferencial, para que a Pátria seja, efetivamente, de todos”, afirmou Rafael Correa, logo após a divulgação da primeira pesquisa de boca de urna, que já apontava a vitória por ampla margem. “Precisamos, portanto, fazer com que este imenso capital político se transforme em organização”, enfatizou, pois “a luta é entre o povo e os que seqüestraram, venderam e traíram a Pátria”.
Desde o final da tarde de domingo, milhares de simpatizantes começaram a chegar até a sede da Aliança País, em frente à Tribuna do Parque Carolina, em Quito, para comemorar ao lado de seu presidente a acachapante derrota imposta à campanha midiático-banqueirista e ao imperialismo norte-americano.
Mídia
Para que o leitor tenha uma idéia do monopólio midiático entrincheirado na oposição a Correa, vale lembrar que, na televisão aberta, 19 famílias ainda controlam 298 das 348 frequências existentes. “Há uma relação incestuosa entre os bancos e os meios de comunicação, especialmente na televisão, onde um dos grandes acionistas do Banco de Pichincha, o maior do país, é proprietário da cadeia Teleamazonas, que detém 43 concessões a nível nacional, além de possuir as revistas Gestión e Diners”, informou o jornalista Eduardo Tamayo, do Fórum Equatoriano de Comunicação.
Um dos compromissos da Aliança País, inscrita na nova Constituição, é precisamente o impedimento à formação de “oligopólio ou monopólio, direto ou indireto, da propriedade dos meios de comunicação e do uso das freqüências”, com expressa proibição às entidades ou grupos financeiros, seus representantes legais, membros da diretoria e acionistas de controlar seu investimento ou patrimônio. Além disso, se estabeleceu um prazo de dois anos para que o setor financeiro se desfaça das ações que possui nos meios de comunicação. Ao mesmo tempo, se incentiva que na sociedade equatoriana se expressem aqueles que nunca tiveram voz, com o governo fomentando a criação de meios de comunicação públicos e comunitários, os quais são colocados, constitucionalmente, em igualdade de condições com os meios privados.
Evidentemente contrários à boa nova - que ainda está sendo gestada -, os donos das grandes redes de rádio e televisão entraram de corpo e alma na campanha. Mesmo nesta segunda-feira, quando ficou claro que deram novamente com os burros n`água, as emissoras privadas deram destaque especial a oposicionistas e à cantilena do “país dividido”, com “conselhos” e “alertas” ao presidente, a quem acusam de “prepotente”e “arrogante”.
Comemoração
“Minhas primeiras palavras são de agradecimento ao povo equatoriano e as segundas são para ratificar o compromisso com esta revolução. Diziam que uma vez presidente eu me acalmaria, mas nós estamos aprofundando o processo. Fiquem tranqüilos pois a cada dia que passa vamos avançar mais, não haverá volta atrás. Somos e seremos mais radicais do que nunca na luta pela justiça social”, sublinhou o presidente, dirigindo-se à multidão que se assomava à sede do Aliança País.
Com o gigantesco respaldo popular vindo das urnas, lembrou Correa, “derrotamos mais uma vez a tentativa de linchamento midiático contra o nosso governo, levada a cabo por uma imprensa mafiosa, que quer ver crucificados os ladrões de galinha, muitos deles empurrados pela fome, enquanto dá sustentação imoral a banqueiros corruptos. Agora, após vencermos já no primeiro turno, dizem que o país está divido. A verdade é que estamos mais unidos do que nunca”.
Rafael Correa ressaltou que “o triunfo não teria sido possível sem o trabalho de milhões de almas, corações e mãos que lutam por esta revolução”, o que nos faz, “reafirmar que é preferível morrer do que perder a vida traindo os princípios e compromissos firmados”.
“Alerta, alerta que caminha, a espada de Bolívar pela América Latina”, respondeu a multidão, fazendo tremular bandeiras de Correa ao lado de cartazes de Bolívar, do herói nacional Eloy Alfaro e de Che Guevara.
Agradecendo a manifestação de carinho, Rafael pediu a todos que se recordassem dos três milhões de equatorianos que vivem no exterior, “expulsos da sua terra pela pobreza, pela discriminação, pela injustiça da falta de oportunidades” e agradeceu aos jovens que votaram pela primeira vez e aos estrangeiros residentes, que tiveram reconhecido o direito ao voto, da mesma forma que os policiais e militares.
“Tínhamos sete candidatos contra o presidente Correa, atacando o governo e as conquistas da revolução. E, do lado deles, a Imprensa corrupta, comprometida com os setores econômicos e políticos oligárquicos, inventando, caluniando e mentindo. Ao mesmo tempo, essa mídia fala em liberdade de expressão. E quanto aos cidadãos, quem os defende das mentiras desta mídia?”, questionou o presidente, sob aplausos.
Rafael enfatizou que o momento é de avanço, de ruptura com os anos de atraso e subserviência ao capital estrangeiro e ao sistema financeiro, de traidores que se enriqueciam às custas da miséria nacional. “Hoje temos um país com eleições, onde os cidadãos têm seus direitos políticos, esta é a democracia formal. Mas a democracia real que temos de conquistar só pode ser construída com justiça social. Sem ela não haverá democracia verdadeira. Também não haverá democracia formal que dure. Por isso reafirmo aqui o compromisso de dar minha vida se necessário para construir esta democracia real, um país mais justo no plano social, regional, étnico, com igualdade de gênero. Juntos, vamos construir uma Pátria sem opulência, porém sem esta miséria insultante que nos envergonha. Uma Pátria altiva, soberana, que nos deixe orgulhosos e da qual todos façamos parte. Ratificamos o compromisso de não retroceder jamais. Viva a revolução bolivariana e alfarista. Até a vitória sempre!”.